sexta-feira, 30 de junho de 2023

VERDADE OU CONVENIENCIA?

Nestas curtas férias por Espanha, tomei conhecimento de um pequeno texto do poeta Ramon Campoamor onde refere
           "En este mundo traidor
                nada és verdad ni es mentira,
                tudo és segun el color
                del cristal con que se mira"
Esta é uma forma subtil e poética de dizer 
"a cada um sua verdade".
Mas se cada um pode assumir como verdade o que resulta da forma como vê e interpreta a realidade, esta, no entanto, é momentaneamente imodificável enquanto não sujeita  a  interpretações de cada um.
Em absoluto, as coisas são o que são, o que não significa que não possa mudar.
No entanto, a verdade de cada um nem sempre resulta da forma como se vê e interpreta a realidade,  mas da forma como se quer ver e interpretar.
O que todos temos que apreender é a ver de forma não emotiva; a ver por várias janelas, com vidraças de cristais diferentes.
Se eu olhar através da minha janela, numa manhã chuvosa com gotículas na minha vidraça, a realidade que vejo é significativamente diferente se olhar pela mesma janela numa manhã soalheira.
Por isso, para ver tenho que limpar a vidraça e contemplar apenas sem interpretações.
Mas o olhar pela mesma vidraça por diferentes pessoas é distinto entre elas, pois vêm coisas diferentes condicionadas pelas emoções, as vivências, os valores, os interesses de cada um.
Coisa diferente é a distorção consciente e querida da realidade, da verdade por diversas razões relacionadas com o observador, o que é diferente de cada um ter a sua verdade.
Neste caso  eu conheço a verdade e conscientemente a nego e a interpreto de maneira diferente.
Por vezes negamos a verdade por incapacidade de a enfrentar. 
Custa-nos conhecer e assumir a verdade, por a mesma nos fazer confrontar com o desagradável ou nos colocar em situação desfavorável aos nossos interesses.
Outras vezes negamos a verdade por incapacidade para a mudar segundo os valores e
princípios que defendemos. Então, desviamos as atenções e fingimos uma realidade diferente, por forma a não sermos confrontados com a verdade.
Finalmente ignoramos a verdade por manifesta conveniência.
Daqui resulta o aforismo "a cada um sua verdade" Mas quando esta "verdade" resulta de interpretações conscientemente distorcidas ou da criação ficcionista da verdade, não estamos perante uma discussão entre a verdade e a mentir, mas do diálogo entre um homem verdadeiro e um mentiroso.
A realidade criada pelo mentiroso mais cedo ou mais tarde não será credível e com ela se identifica o mentiroso.
Por isso,  "
En este mundo traidor", como diz o poeta,  dizer a verdade pode ser um ato
revolucionário.


valdemar cabral



 


quarta-feira, 29 de junho de 2016

QUE HORAS SÃO?

Há dias, por mera coincidência, ouvi um pequeno diálogo que retive.

A conversa foi curta.

- Que horas são? Perguntava um.

- 10 e pouco, respondeu o outro.

- Não, retorquiu um terceiro. São 10 e 10.

- Mas é a mesma coisa, insistiu o segundo.

- Não. Dez e pouco é diferente de 10 horas e 10´.

- Ora, é a mesma coisa, insistiu o terceiro.


Olhei para o relógio e, de facto, eram 22h10´.

Perguntei ao meu colega que horas eram para confirmar e ele respondeu-me prontamente:

Passam 10 das 22h.


Fiquei a pensar...

De facto todos tinham razão.

As horas não eram o mais relevante para eles, mas a afirmação que cada um queria ter no referido diálogo.

Para mim era rigorosamente a mesma coisa, mas para eles não.

Compreendi-os e fiquei a pensar.

É assim na vida.

Muitas vezes dizemos o mesmo, mas de forma diferente.

Mas como não nos ouvimos, logo assumimos a diferença.

Ouçamo-nos e, acima de tudo, tentemos convergir no que nos une.

Dizer e pensar diferente não significa ser contrário, mas apenas olhar a realidade por outra janela.

Ao contrário destes meus amigos, há ainda aqueles que nem dizem as horas para não gastarem o relógio.



valdemar cabral





 

terça-feira, 26 de abril de 2016

26 DE ABRIL

26 de Abril  não é o dia de hoje - é o FUTURO

26 de abril é o 1º dia depois do 25 de abril, por isso ele só pode representar a esperança num mundo melhor, seja ele pintado de que cor for.

Mas o futuro não pode ser apenas e evolução do ontem, mas um ato  criativo que permanentemente convoca todos.

Como disse o Presidente da República (que bom foi ouvir falar em sonho):

A Democracia criada a partir do 25 de Abril de 1974 tem de ser recriada, todos os dias, para se não negar, nem negar futuro aos Portugueses.
Saibamos, também, todos nós, honrá-la e servi-la, renovando o que importa renovar, debatendo o que há a debater, sonhando o que há a sonhar.

Há na essência deste pensamento do PR uma convocação para uma melhor cidadania, para um reforço da Democracia, que não se pode bastar e alimentar do ato de votar.
A Democracia não se vive de 4 em 4 anos, mas todos os dias.
Democracia é uma permanente vivência no seio da sociedade em que estejamos inseridos; é um estar feito de participação e de respeito pela opinião divergente, na certeza que só na riqueza da divergência se pode encontrar o maior número possível de soluções para um mesmo problema.

Saibamos viver em Democracia e alimentar a nossa participação e ação social na conjugação dos verbos RECRIAR, RENOVAR, DEBATER e SONHAR.

Se todos exercermos as nossas responsabilidades com fundamentos verdadeiramente democráticos e fizermos desta visão da Democracia o nosso modus operandi e o nosso lema de agir em sociedade, por certo estamos a contribuir para a busca do verdadeiro bem comum, abandonando definitivamente o paternalismo do “eu sei o que é melhor para ti”.

Se tal não for a nossa convicção e a nossa prática de agir e pensar então, como diz o PR, estaremos a contribuir para negar futuro.

valdemar cabral

segunda-feira, 28 de março de 2016

FESTAS DOS BASKET 2006-2016

Como diz a canção "10 anos é muito tempo, muitos dias, muitas horas a cantar...."

Pois é, são 10 anos de sucesso da FPB e da sua equipa, que deu muitos dias, muitas horas de trabalho.

Mas acima de todo o esforço, que foi e é muito, fica o brilhozinho nos olhos com que o Presidente Manuel Fernandes sempre viveu esta iniciativa.
E só com o brilhozinho nos olhos se consegue o impossível e todo o trabalho se torna gratificante.

Sem paixão, não há sucesso.
 
Amanhã todos os caminhos basquetebolísticos vão dar a Albufeira para, até domingo, uma sadia competição unir todas as Associações e atletas de todo o País numa enorme confraternização onde a vitória é de todos.

Também a arbitragem, parte integrante das "Festas", vai marcar presença com cerca de uma centena de juízes que, num espirito de confraternização com jogadores/as, treinadores/as e dirigentes, vão com o seu desempenho dar um contributo decisivo para mais um sucesso das Festas do Basket.

Pela parte interessada que represento, necessário se torna transmitir a todos os juízes que mais que a "montra" para o sucesso individual que por vezes é apregoada, nas Festas importa solidificar os princípios da solidariedade, amizade, confraternização, partilha e o gosto de participar no fenómeno coletivo que é o basquetebol, pois só assim o espirito das Festas se prolonga durante toda a vida dos juízes na arbitragem.

Para isso as Festas têm que ser um momento para afirmar que o importante é formar Homens e Mulheres para a arbitragem e para o Basquetebol, mais do que técnicos com sucesso na aplicação das leis do jogo. 


É transmitir desde já aos jovens juízes quais são os valores ético-desportivos que queremos na nossa modalidade e que a arbitragem é uma atividade que implica sacrifício, dádiva, entrega ao bem comum, paixão, trabalho em equipa, solidariedade e respeito por todos os agentes desportivos.

A arbitragem e o basquetebol necessitam de mais Homens e Mulheres de carater e solida formação cívica.

Que os jovens juízes disfrutem do prazer de participar nestas "Festas" e que com o sentido de responsabilidade que sempre demonstram saibam contribuir hoje e amanhã para o sucesso da Arbitragem e do Basquetebol

ATÉ ALBUFEIRA!

valdemar cabral





 

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

MOTIVAÇÃO


O fator motivação vs. desmotivação é um elemento essencial para o sucesso do trabalho em equipa, seja de que natureza for, e é determinante para que alcancemos os objetivos a que nos propusemos, ou de que somos responsáveis.
 
É essencial ao sucesso de um grupo de trabalho que o líder seja capaz de trabalhar a motivação de todos os seus membros e compreenda quais os fatores determinantes para motivar todos os seus pares.
 
Numa época de crise financeira e económica tal torna-se ainda mais relevante, pois mesmo que o aspeto financeiro, por si só, pudesse garantir o sucesso, e não é, não podemos "comprar" a motivação com dinheiro.
 
Mais dinheiro não é sinal de melhor desempenho e maior motivação das equipas.
 
Outros fatores como os princípios éticos, os valores socialmente relevantes, o reconhecimento da competência, a solidariedade e o gosto pelo participar ativamente no sucesso do projeto coletivo, têm que ser valorizados e ser motor do alavancar da motivação coletiva.
 
Cabe aos líderes ter competências e ideias claras nesta matéria, trabalhá-las com os pares, e os liderados, e incutir uma prática de gestão participada nos projetos e atividades assente em valores por todos reconhecidos e aceites.
 
Sobre este assunto, recomendo a leitura de uma entrevista de Alain de Botton, in Publico - 2.2.2016, transcrevendo um pequeno excerto como forma de aguçar o apetite pela leitura.
 
"A teoria dominante é a de que se motiva pelo salário e incentivos. E que é através de salários mais elevados que se adquire o talento.
Depois há muitas teorias sobre como aumentar a motivação: um escritório com muita luz ajuda; uma mesa de pingue-pongue na empresa também; um dia de pizza gratuita igualmente.
Mas,apesar de todas as experiências, o que vemos é que as empresas continuam a debater-se com problemas graves de motivação.
E no entanto há exemplos que contrariam tudo o que fazemos nas empresas.
Um membro do exército ganha pouco e faz coisas extraordinárias — até morrer.
No mundo de hoje é possível pagar um salário anual de 18 mil libras para alguém morrer por nós.
Mas na empresa ao lado temos trabalhadores desmotivados que recebem 22 mil libras/ano para preencher formulários.
O QUE É QUE ISSO NOS DIZ?
Que a intensidade da motivação está ligado à nossa convicção de que o que fazemos tem grande valor.
Não é somente pelo dinheiro.
É pelo significado do que fazemos.
Precisamos de lideres que deem significado ao nosso trabalho."
 
valdemar cabral

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016


TENS JEITO PARA A COISA!

Em matéria de ética e princípios de igualdade temos ainda um longo percurso a percorrer mas, o que é mais grave, é que em Portugal parece que é socialmente considerado normal aquilo que deveria merecer a repulsa de todos os cidadãos e a intervenção das entidades oficiais.
 
Assisti hoje no jornal das 8 da CMTV a uma reportagem sobre ocupação de um prédio devoluto em Lisboa.

Os agentes da PSP arrombam a pontapé uma porta, retiram os cartões de proteção de uma janela e encontram uma degradante situação social.

Numa dependência uma Senhora nitidamente sob alimentada e carente de tudo é questionada pelo agente da PSP:

- Mas tu moras aqui?
- Moras com quem?
  Não senhor agente…, respondeu a Senhora.

- Drogaste?
  Não fumo drogas há muito tempo.

- E o teu marido, onde é que está?
- És diabética?
  Não senhor agente. Utilizo o aparelho para ver as horas senhor agente, porque eu não tenho relógio.

-Tens telemóvel?
  Não senhor agente.

- E o teu marido tem?
  Também não senhor agente.

- Olha, e esse pé?
  Isso fui eu que cai senhor agente e parti.

Entretanto o senhor agente questiona a Senhora sobre frases escritas na parede, em que se lia:

“ Só pode falar da minha vida quem puder servir de exemplo”
e

 “ O conhecimento da vida está dentro de cada pessoa”
O agente questiona:
És tu que escreves isto?
Sou senhor agente.

Resposta do agente: tens jeito para a coisa!

Não resisti e mudei de canal.

Não está em causa a bondade dos objetivos da intervenção policial, mas o respeito pelos direitos humanos dos mais fracos.
Será que a exposição de imagem dos pobres foi autorizada pelos próprios?

Será que se respeitou o direito de ser pobre?
E fiquei a pensar….
Mas quem será destas personagens o ser socialmente mais pobre?

Por certo não é esta Senhora que não perdeu os princípios de educação no relacionamento com os outros e é capaz de, no meio da miséria social mais profunda em que vive, ter a riqueza de exprimir, por escrito, os seus sentimentos, a que o Senhor Agente chama- tens jeito para a coisa.

Fiquei mais triste!

Valdemar cabral

segunda-feira, 29 de junho de 2015

O BASQUETEBOL PRIMEIRO


A Direção da FPB e os agentes da modalidade, fundamentalmente os clubes,  têm vindo a analisar a possibilidade de reformular os quadros competitivos, designadamente nas competições de topo.
Essencialmente, está em causa aumentar o nível técnico do jogo e o número de jogos na LPB e na Pro Liga, tendo em consideração as assimetrias de desenvolvimento da modalidade, com grande prejuízo para o interior e sul do País, e os meios humanos e financeiros disponíveis.
De facto, é unanimemente reconhecido que a nossa competição tem poucos jogos e muitos interregnos, pelo que urge criar condições para que se possa intervir e alterar esta realidade.
É evidente que este poderá não ser o melhor momento para investir no aumento competitivo daquelas competições, mas também é certo que é nos momentos de crise que importa não parar, e com bom senso e sentido de responsabilidade motivar todos para dar mais vida ao nosso Basket.
Nos debates que têm decorrido sobre esta temática é sempre considerado crítico o fator arbitragem, algumas vezes com justos fundamentos, mas noutros com alguma superficialidade, não se tendo em consideração todos os fatores relevantes do seu contributo para o desenvolvimento da modalidade.
É por isso que este é um ótimo momento para que a arbitragem faça uma reflexão sobre as consequências que as alterações no quadro competitivo podem, e devem ter, nos quadros de juízes, dialogando com os restantes agentes na busca das melhores soluções.
Os fatores determinantes que levam à reestruturação do quadro competitivo são, no essencial, os mesmos, que podem, e devem, determinar uma análise à estrutura dos quadros de arbitragem.
É absolutamente necessário adaptar a geografia dos juízes às necessidades da competição e investir fortemente nas zonas de maior carência – Regiões Autónomas e Algarve.
O princípio da igualdade de tratamento para situações que, à partida, não são iguais, podendo parecer o método formalmente mais justo, pode conduzir a dificuldades acrescidas que urge tratar.
Há muita margem de trabalho que, com salvaguarda dos direitos de todos os juízes, pode conduzir a situações mais ajustadas à grave crise que assola a nossa modalidade.
É evidente que o ótimo é inimigo do bom, mas como em tudo temos que nos adequar à realidade e tomar decisões que não sendo muitas vezes, em teoria, as melhores, são por certo aquelas que podem dar melhor resposta às exigências e meios disponíveis.

Nesta discussão não pode haver tabus, nem detentores da verdade, ou das melhores soluções, mas com espirito criativo e aberto à participação de todos os sectores da modalidade – Direção Técnica da FPB, CA/FPB, Clubes, Associações e ANJB, contribuir para, com sentido de responsabilidade, encontrar as melhores soluções no contexto das dificuldades atuais.

Importa informar e esclarecer para que cada um compreenda as dificuldades do outro, e vice-versa, e ambos contribuam para encontrar as soluções mais equilibradas, justas e rigorosas.

O trabalho pode não ser fácil, mas isso só pode servir de alimento ao nosso entusiasmo e não de fator de estagnação e continuar sempre a pensar à volta dos mesmos critérios e interesses.

Todos temos que pensar dentro da  “Casa do Basquetebol”, tendo como principal objetivo e interesse considerar “ O BASQUETEBOL PRIMEIRO”.


valdemar cabral