segunda-feira, 29 de junho de 2015

O BASQUETEBOL PRIMEIRO


A Direção da FPB e os agentes da modalidade, fundamentalmente os clubes,  têm vindo a analisar a possibilidade de reformular os quadros competitivos, designadamente nas competições de topo.
Essencialmente, está em causa aumentar o nível técnico do jogo e o número de jogos na LPB e na Pro Liga, tendo em consideração as assimetrias de desenvolvimento da modalidade, com grande prejuízo para o interior e sul do País, e os meios humanos e financeiros disponíveis.
De facto, é unanimemente reconhecido que a nossa competição tem poucos jogos e muitos interregnos, pelo que urge criar condições para que se possa intervir e alterar esta realidade.
É evidente que este poderá não ser o melhor momento para investir no aumento competitivo daquelas competições, mas também é certo que é nos momentos de crise que importa não parar, e com bom senso e sentido de responsabilidade motivar todos para dar mais vida ao nosso Basket.
Nos debates que têm decorrido sobre esta temática é sempre considerado crítico o fator arbitragem, algumas vezes com justos fundamentos, mas noutros com alguma superficialidade, não se tendo em consideração todos os fatores relevantes do seu contributo para o desenvolvimento da modalidade.
É por isso que este é um ótimo momento para que a arbitragem faça uma reflexão sobre as consequências que as alterações no quadro competitivo podem, e devem ter, nos quadros de juízes, dialogando com os restantes agentes na busca das melhores soluções.
Os fatores determinantes que levam à reestruturação do quadro competitivo são, no essencial, os mesmos, que podem, e devem, determinar uma análise à estrutura dos quadros de arbitragem.
É absolutamente necessário adaptar a geografia dos juízes às necessidades da competição e investir fortemente nas zonas de maior carência – Regiões Autónomas e Algarve.
O princípio da igualdade de tratamento para situações que, à partida, não são iguais, podendo parecer o método formalmente mais justo, pode conduzir a dificuldades acrescidas que urge tratar.
Há muita margem de trabalho que, com salvaguarda dos direitos de todos os juízes, pode conduzir a situações mais ajustadas à grave crise que assola a nossa modalidade.
É evidente que o ótimo é inimigo do bom, mas como em tudo temos que nos adequar à realidade e tomar decisões que não sendo muitas vezes, em teoria, as melhores, são por certo aquelas que podem dar melhor resposta às exigências e meios disponíveis.

Nesta discussão não pode haver tabus, nem detentores da verdade, ou das melhores soluções, mas com espirito criativo e aberto à participação de todos os sectores da modalidade – Direção Técnica da FPB, CA/FPB, Clubes, Associações e ANJB, contribuir para, com sentido de responsabilidade, encontrar as melhores soluções no contexto das dificuldades atuais.

Importa informar e esclarecer para que cada um compreenda as dificuldades do outro, e vice-versa, e ambos contribuam para encontrar as soluções mais equilibradas, justas e rigorosas.

O trabalho pode não ser fácil, mas isso só pode servir de alimento ao nosso entusiasmo e não de fator de estagnação e continuar sempre a pensar à volta dos mesmos critérios e interesses.

Todos temos que pensar dentro da  “Casa do Basquetebol”, tendo como principal objetivo e interesse considerar “ O BASQUETEBOL PRIMEIRO”.


valdemar cabral

quarta-feira, 17 de junho de 2015

EM QUE ESTÁS A PENSAR?

Quando qualquer um de nós acede ao Facebook é de imediato confrontado com a pergunta:

Em que estás a pensar?

Confesso que por variadíssimas vezes estive tentado em responder e, em algumas situações, até iniciei essa partilha.

No entanto, logo me vinha a ideia um excerto de um conhecido poema de Fernando Pessoa em diz:

“… e os que leem o que escreve (o poeta)
na dor lida sentem bem,
não as dores que ele teve
mas só as que eles têm”.
 
Por isso, sempre se me colocou a dúvida de saber se seria capaz de transmitir o que efetivamente estava a pensar ou se, cada leitor, apenas ia interpretar o meu pensamento em função da sua própria vivência e momento, o que significaria que a minha mensagem corria o risco de nunca chegar plenamente ao seu conhecimento.


Assim, ao contrário do meu desejo, o meu pensamento apenas transmitiria as “dores” que eles têm e não as que eu, eventualmente, teria, isto é, cada um leria de acordo com a sua conveniência.

É verdade que este é um risco que sempre corremos quando partilhamos qualquer sentimento com outros, mas também é facto que esse risco diminui na justa medida em que melhor conhecemos os outros.

Desta forma, o dilema que se depara é o de escrever para mim, independentemente dos outros, correndo o risco da mensagem ser interpretada de maneira diferente do desejado ou, pura e simplesmente, escrever para os outros, isto é, escrever o que os outros desejam ler.

Manifestamente prefiro a primeira opção, isto é, escrever o que penso mesmo que o único e fiel interprete seja eu, e apesar de saber que a liberdade tem um custo.

É isso que muitas vezes acontece quando, por este ou aquilo motivo, tenho oportunidade de partilhar os meus pensamentos e preocupações na tentativa de poder contribuir para a busca dos melhores caminhos.

Faço-o, muitas vezes, com motivação, mas também com a plena convicção que as minhas ideias estão votadas pelos “intérpretes” do nosso dia a dia ao insucesso ou, quando muito, vêm a ver o seu mérito reconhecido muito mais tarde ou, ainda, de forma indireta e pouco transparente.

Não porque o mérito das soluções e processos propostos não sejam, muitas vezes, os mais adequados e necessários, mesmo aos olhos daqueles que as negam, mas porque não correspondem ao desejado à luz dos caminhos que, a cada momento, querem trilhar.

Mas só tenho uma maneira de estar, que é dizer o que penso no momento adequado e às pessoas certas, correndo o risco de não engrossar o coro do unanimismo, nem o grupo das amizades por conveniências, mas tendo a tranquilidade do meu travesseiro e a certeza de que qualquer dia terei razão outra vez. 

Por isso, a cada um dos leitores deixo a liberdade do seu pensamento, esperando que mesmo que não sintam as minhas dores pelo menos ajude a atenuar as vossas.

valdemar cabral

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

A defesa da legalidade é uma responsabilidade de todos


Foi com total surpresa que tomei conhecimento do Com. nº 32-2014/2015 do CA da FPB, onde se refere que

 PROCESSO DE RECURSO

“ … decisão do CA da FPB sobre o recurso oportunamente apresentado pelo árbitro nacional de 2ª categoria Pedro Carvalho (Algarve)
e respeitante ao castigo que lhe foi aplicado pelo CAD do Algarve”.

 Daqui resulta que o CA actuou enquanto entidade de recurso em matéria disciplinar, face a decisões do CAD da Associação de Basquetebol do Algarve.

Ora esta é uma competência que, salvo melhor entendimento ou alguma interpretação mais criativa e imaginativa, julgo  não estar legalmente atribuída ao CA/FPB.

No entanto, e face à surpresa, não podia deixar de recorrer á leitura da decisão proferida, a que até se chama “ACORDÃO”, na expectativa que algo de excepcional fosse alegado e viesse a legitimar a intervenção do CA/FPB, em matéria de julgamento de recursos das decisões dos CAD´s.

E é exclusivamente quanto a este assunto que me pronuncio, embora sobre a matéria de facto em apreço, e basta a leitura do referido “Acordão”,  haja um autentico labirinto descritivo e interpretativo que,  a meu olhas, torna os fundamentos da decisão algo indecifráveis.

Nada  na decisão se diz quanto ao fundamento das competências em que se fundamenta a decisão.

Não se ignora que o artº 15º do Regulamento Disciplinar da Arbitragem refere que:

“Das decisões do CA em matéria disciplinar cabe recurso para o
Conselho de Justiça da FPB.
Das decisões dos CAD’s cabe recurso para o CA”
 
Só que este Regulamento tem que se interpretar como derrogado, pelo menos quanto às matérias que estejam em contradição com o novo Regime Jurídico das Federações Desportivas, aprovado pelo  Decreto -Lei n.º 248 -B/2008,de 31 de dezembro, com a redacção dada pelo Decreto-Lei n.º 93/2014, de 23 de junho.

Em consequência das alterações legais introduzidas, pelo referido Dec. Lei nº 93/2014,  a Assembleia Geral da FPB de 27 de fevereiro de 2014, aprovou os novos Estatutos da FPB, tendo uma das alterações incidido, concretamente, nas competências do CA/FPB, deixando este órgão federativo de ter qualquer competência em matéria disciplinar.

Assim, foram modificados os  artº 42º e 43º dos Estatutos da FPB, passando a estar tipificadas as competências do CA/FPB e delas não consta qualquer competência em matéria disciplinar.

Por isso, a minha surpresa.

Sinceramente, espero que o esclarecimento aparece e que, de facto, seja reconhecido que estou errado e que a minha interpretação carece de melhor fundamentação.

Mas se tal não acontecer, que se reconheça o erro cometido e que o recurso apresentado, mesmo que remetido pelo recorrente para o CA/FPB , seja reencaminhado para o órgão com legitimidade para tal, anulando-se a decisão proferida.

Pode até acontecer que a decisão a proferir venha a ser mais gravosa para o recorrente.

Mas  o princípio da legalidade não se pode medir nem validar  pelos resultados, mas antes pelos processos utilizados, sendo o primado da Lei sempre um principio a ter presente um matéria disciplinar.

Erros todos nós cometemos, mas ignorar o erro e gostar de viver com a ilegalidade, será a pior opção e o preço a pagar sempre  mais caro.

valdemar cabral
   Delegado AG/FPB

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

JÁ NÃO GOSTO DESTA MUSICA


 
Acontece a todos nós…

Uma música, ou uma canção, que nunca nos suscitou qualquer interesse e, de repente, encontramos nela alguma identificação e descobrimos o prazer de nos conduzir aos sonhos da vida, passando a escutá-la repetidamente.

Outras vezes, é uma melodia que sempre nos agradou, que deixa de merecer a nossa preferência .

Que se passa, então?

Objetivamente a composição musical mantém-se inalterável, apenas o tempo e as circunstancias da sua escuta se alteraram.

O que comprova que o homem não muda apenas no corpo, mas também no espirito e na alma, e o tempo e as vivências condicionam essa evolução e relativizam, ou determinam, os valores pelos quais pensamos, em cada momento, valer a pena lutar.

Daí o conhecido pensamento de Jose Ortega Y Gasset “ O homem, é o homem e suas circunstâncias”

Dei por mim a pensar que se isso acontece normalmente com as composições musicais, com um filme ou, até, com um livro, não deixa de ser verdade que também pode acontecer relativamente às pessoas.

Há pessoas que em determinado momento, e em determinado contexto, nos fazem acreditar nelas, nos seus princípios e projectos, e de que podem contribuir para um “mundo” melhor, seja esse mundo o que for.

Esse acreditar cria em nós um espirito de confiança e, até, de amizade, e a ilusão de que vale a pena acreditar nela e nos seus projectos.

Só que o tempo é um julgador implacável e tal como essa música de que gostávamos e deixou de merecer a nossa preferência, também as pessoas deixam de merecer a nossa confiança quando os seus projectos e princípios deixam de corresponder aquilo em que acreditamos, isto é, quando o contexto se altera.

 
Por isso, na nossa vida profissional, social e familiar, as pessoas para continuarem a merecer a nossa preferência e, até, a nossa amizade e o reconhecimento do seu contributo para a melhoria da vida em sociedade, têm que permanentemente serem portadoras de uma imagem de credibilidade e competência, e pautarem a sua intervenção à luz de princípios que alimentem a capacidade de os outros continuarem a acreditar neles e a terem o prazer da sua convivência.

Quando isso não acontece, mas se trata de uma musica, livro ou filme a solução é fácil, mudamos de estação, fechamos o livro ou saímos a meio do filme.

E com as pessoas, isso será possível?

É, depende de nós.

Valdemar cabral