Quando qualquer um de nós acede ao Facebook é de
imediato confrontado com a pergunta:
Em que estás a pensar?
Confesso que por variadíssimas vezes estive tentado em responder e, em algumas situações, até iniciei essa partilha.
Assim, ao contrário do meu desejo, o meu pensamento apenas transmitiria as “dores” que eles têm e não as que eu, eventualmente, teria, isto é, cada um leria de acordo com a sua conveniência.
Por isso, a cada um dos leitores deixo a liberdade do seu pensamento, esperando que mesmo que não sintam as minhas dores pelo menos ajude a atenuar as vossas.
valdemar cabral
Em que estás a pensar?
Confesso que por variadíssimas vezes estive tentado em responder e, em algumas situações, até iniciei essa partilha.
No entanto, logo me vinha a
ideia um excerto de um conhecido poema de Fernando Pessoa em diz:
“… e os que leem o que
escreve (o poeta)
na dor lida sentem bem,
não as dores que ele teve
mas só as que eles têm”.
Por isso, sempre se me
colocou a dúvida de saber se seria capaz de transmitir o que efetivamente
estava a pensar ou se, cada leitor, apenas ia interpretar o meu pensamento em
função da sua própria vivência e momento, o que significaria que a minha
mensagem corria o risco de nunca chegar plenamente ao seu conhecimento.
Assim, ao contrário do meu desejo, o meu pensamento apenas transmitiria as “dores” que eles têm e não as que eu, eventualmente, teria, isto é, cada um leria de acordo com a sua conveniência.
É verdade que este é um risco
que sempre corremos quando partilhamos qualquer sentimento com outros, mas
também é facto que esse risco diminui na justa medida em que melhor conhecemos
os outros.
Desta forma, o dilema que se
depara é o de escrever para mim, independentemente dos outros, correndo o risco
da mensagem ser interpretada de maneira diferente do desejado ou, pura e
simplesmente, escrever para os outros, isto é, escrever o que os outros desejam
ler.
Manifestamente prefiro a
primeira opção, isto é, escrever o que penso mesmo que o único e fiel
interprete seja eu, e apesar de saber que a liberdade tem um custo.
É isso que muitas vezes
acontece quando, por este ou aquilo motivo, tenho oportunidade de partilhar os
meus pensamentos e preocupações na tentativa de poder contribuir para a busca dos melhores caminhos.
Faço-o, muitas vezes, com
motivação, mas também com a plena convicção que as minhas ideias estão votadas pelos
“intérpretes” do nosso dia a dia ao insucesso ou, quando muito, vêm a ver o seu mérito
reconhecido muito mais tarde ou, ainda, de forma indireta e pouco transparente.
Não porque o mérito das
soluções e processos propostos não sejam, muitas vezes, os mais adequados e necessários, mesmo
aos olhos daqueles que as negam, mas porque não correspondem ao desejado à luz
dos caminhos que, a cada momento, querem trilhar.
Mas só tenho uma maneira de estar, que é dizer o que penso no momento adequado e às pessoas certas, correndo o risco de não engrossar o coro do unanimismo, nem o grupo das amizades por conveniências, mas tendo a tranquilidade do meu travesseiro e a certeza de que qualquer dia terei razão outra vez.
Mas só tenho uma maneira de estar, que é dizer o que penso no momento adequado e às pessoas certas, correndo o risco de não engrossar o coro do unanimismo, nem o grupo das amizades por conveniências, mas tendo a tranquilidade do meu travesseiro e a certeza de que qualquer dia terei razão outra vez.
Por isso, a cada um dos leitores deixo a liberdade do seu pensamento, esperando que mesmo que não sintam as minhas dores pelo menos ajude a atenuar as vossas.
valdemar cabral
Um magnífico texto - também este convidando a uma profunda reflexão que o grande Pessoa suscita no extracto deste seu poema - e que me deixa a dúvida se quando respondo à pergunta do Facebook a que, duas ou três vezes respondi "à Letra", não estarei a dar aos seus administradores "lenha para ser queimada".
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