quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

A FIGURA DO ANO

DESEMPREGO - JUSTIÇA


No programa semanal da TSF "Bloco Central", Pedro Adão e Silva elegeu como figura do ano o DESEMPREGADO PORTUGUÊS, referindo:

 "Digo desempregado no singular porque a experiencia para quem está no desemprego nunca é uma taxa,
nunca soa a 15% ou 16%;

A sensação para quem está no desempregado é sempre de 100%;
Eu diria que em democracia não há forma tão brutal de privação da liberdade como não ter trabalho e não ter rendimento".


Neste comentário, Pedro Adão e Silva coloca o problema no lugar certo, a pessoa vitima do desemprego, e destaca a autossuficiência económica como fator de liberdade, pelo menos enquanto expressão do pensamento.

Normalmente os arautos da nossa vida pública colocam-se na mera posição do observador, da pessoa que analisa o problema do outro, e não na de quem tem efectivamente o problema e com ele vive.

Por outro lado, a subsistência económica, seja a que nível for, ou apenas a ânsia de mais e mais,  tantas e tantas vezes inibe e condiciona a livre expressão do pensamento, colocando o interesse individual à frente do interesse coletivo.

Tudo o que se referiu a propósito do desemprego pode, e deve ser dito, sobre a JUSTIÇA e, essencialmente, a falta dela.

Quando se é injusto com alguém não importa desculparmo-nos com anteriores potenciais boas ações ou com sucessivas justificações para a injustiça praticada.

Para o injustiçado não há injustiças menores  nem parciais, mas apenas a injustiça numa forma absoluta, isto é, a 100%.

A injustiça só é verdadeiramente avaliada pelo injustiçado, e só ele conhece a sua exata dimensão.

Quem decide mais do que procurar justificações
"deve lembrar-se que o seu carater é um espelho do seu destino".

Por isso, não vale a pena justificar o que é injusto, mas apenas refletir sobre a injustiça praticada e dela retirar ensinamentos que evitem a sua repetição.

A injustiça quando conscientemente repetida é uma das formas ilegítimas do exercício de qualquer poder ou direito ou, de outra forma, é o exercício totalitário de um poder tantas vezes democraticamente atribuído.

O decisor normalmente considera a sua teimosia, como forma de alegada frontalidade, mas tal mais não é do que uma demonstração de força de quem já não tem argumentos.
 
Por isso, é essencial saber quebrar a redoma em que alguns se habituaram a viver e a decidir e, com humildade, colher na diferença a riqueza do desenvolvimento, ouvindo os outros e tendo em consideração as suas opiniões, não transformando a teimosia em critério de atuação.

Preferir a frontalidade da diferença ao aplauso de conveniência daqueles que, deitados na zona de conforto que semearam, só agem em conformidade com os seus interesses.
 
É certo que o tempo não tem ciclos mas apenas uma direção - o futuro.

No entanto, o fim de um ano cria a ilusão de que algo começa de novo.

Que essa ilusão possa contribuir para a reflexão e que cada um reveja o seu passado e saiba contribuir para um futuro onde verdadeiramente o valor da justiça, da igualdade de oportunidade, da imparcialidade e da defesa do bem comum se sobreponha aos interesses individuais tantas e tantas vezes cerceadores dos reais interesses coletivos.

Não importa querer ser grande no reino dos liliputianos, mas ser um igual entre todos e com todos contribuir para o desenvolvimento do mundo profissional, social, desportivo ou familiar em que nos inserimos.

valdemar cabral

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

SABER SER


Os valores sociais e a sua prática

Realizou-se no passado dia 10 de Dezembro na Assembleia da República a cerimónia da entrega da medalha comemorativa do 50º Aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos aos 3 elementos distinguidos com o prémio Direitos Humanos 2013.

Tudo não passaria de normal, se normal tivesse sido a intervenção dos distinguidos.

Mas não.

Jose António Pinto, Assistente Social na junta de freguesia de Campanha-Porto, ao agradecer a distinção do prémio mais não fez do que, afinal, demonstrar o quão justa foi a sua atribuição.

De facto,  num momento em que muitos confortados no bem estar proporcionado por escassos minutos de exposição pública, gozando as vénias de ocasião, se refugiariam em palavras gastas e ocas, o galardoado fez jus ao seus valores e demonstrou que um homem de convicções, princípios e sentido de responsabilidade social em todas as ocasiões o deve demonstrar, correndo o risco do incómodo e, até, de vir a ter prejuízos diretos, ou indiretos, para o seu nome e pessoa.

Na referida cerimónia, perante a Presidente da Assembleia da República e os acomodados deputados, José António Pinto afirmou:

"Deixo ficar esta medalha no Parlamento se os senhores deputados me prometerem que, futuramente, as leis aprovadas nesta casa não vão causar mais estragos na vida daqueles que, por terem deixado de dar lucro, são agora considerados descartáveis";

"Eu não quero receber medalhas, quero justiça na economia, justiça na repartição da riqueza criada";

"Quero que a dignidade do Homem seja mais valorizada que os mercados, que o interesse coletivo e o bem comum tenham mais força que os interesses de meia dúzia de privilegiados".

A partir da leitura desta notícia refleti sobre a falta que nos fazem homens e mulher que:
 
  • Alicerçados na força das suas convicções tenham uma visão da sociedade, e dos seus valores, que ultrapasse o horizonte que a sua vista alcança;
  • Sejam capazes de ver para além do muro das dificuldades e pensar fora do quadrado que a todos limita;
  • Tendo princípios e valores sejam capazes de separar o acessório do essencial e o individual do coletivo;
  • Entendam que o percurso em circulo e ziguezague, tentando ludibriar os desatentos, será sempre o caminho mais longo para atingir a verdade;
  • Alicercem a sua competência na força dos seus argumentos, princípios e ações e não no poder efémero, mesmo que legitimamente exercido;
Este é o desafio que se coloca a todos nós -  com o nosso exemplo, competência, espirito de missão e de partilha, temos que contribuir para o bem comum e saber ajudar a transformar as dificuldades em oportunidades.

A arbitragem e o Basquetebol também carecem desse desafio e todos temos que ajudar a vencer.

Valdemar cabral