segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

ELE NÃO NOS MERECE!



"Futebol português não merece os árbitros que tem".
Pedro Proença

 

Referi-me no meu último texto à necessidade de" ter presente que a par de se querer formar um excelente árbitro, é necessário trabalhar para formar um excelente homem, ou mulher".

Não esperava que tão rapidamente esta minha opinião tivesse tão ilustrativo fundamento.

Por isso, trouxe-a à colação, porque não gostaria que um árbitro de basquetebol, por mais reputado que fosse o seu desempenho, alguma vez proferisse afirmações como as que recentemente foram proferidas por Pedro Proença, árbitro internacional de futebol.

De facto, o futebol português não merece este tipo de árbitros, mas outro tipo de homens e mulheres.

Pessoas com humildade, sentido critico, respeito pelos concidadãos que lhes pagam, ou proporcionam condições para serem pagos.

É facto que há na comunicação social um generalizado excesso de apreciação crítica da arbitragem do futebol, não se dando o beneficio da dúvida, nem respeitando uma atividade como a de árbitro, de qualquer modalidade.

Mas também é facto que os árbitros têm que viver, e saber viver, com essa pressão, é o preço do vedetismo tantas vezes procurado, dever e obrigação que se impõe a quem defende o profissionalismo e a ele aderiu.

Não foi a arbitragem que "chamou" toda a comunicação social para divulgar a cerimónia das insígnias da FIFA para a presente época?

Não merecerão os erros grosseiros (ou não os há?) igual destaque?

Pena que a falta de merecimento de todos nós por aquela ilustre personagem, não seja acompanhado da sua emigração para outros países, como a tal são forçados milhares e milhares de jovens com competências bem mais úteis a Portugal.

Os árbitros de topo do futebol nacional são profissionais principescamente remunerados.

Se, por vezes, são injustiçados, que dizer dos homens e mulheres que trabalham 8h e mais por dia para terem um salário de €485,00?

Que dizer de quem tem um intervalo para ir à casa de banho, que é descontado no horário de trabalho?

De quem é obrigado a levar de casa o papel higiénico que utiliza no trabalho ou a alimentação que vai comer sentado no degrau de uma escada ou num banco de madeira? 


Que dizer de quem, tantas e tantas vezes, tem que viver com a coação moral e psicológica da sua entidade patronal, ou dos seus representantes?

E são estes que, no anonimato, alimentam o mundo do futebol, com as suas virtudes e misérias.

É certo que alguns árbitros têm tido bons desempenhos internacionais e, por isso, participado nas mais importantes competições europeias e mundiais não tendo merecido, internamente, o mesmo reconhecimento.

Mas é sério alegar que se sou "bom" na Europa também sou "bom" em Portugal?

Este é um discurso conhecido, mas que não serve senão para tentar tapar o sol com a peneira.

Portugal nada deve a estas personagens que, filhos do anonimato, devem ao futebol toda a notoriedade que têm.

Por tudo isto é que a formação, o acompanhamento e o exemplo de quem dirige são determinantes para formar homens e mulheres que honrem o País em todas as suas atividades, lúdicas ou profissionais, e façam do Desporto uma escola de educação cívica e desenvolvimento pessoal.

Valdemar cabral

1 comentário:

  1. Confesso que tenho sentimentos contraditórios em relação ao que escreves, caro amigo. Se,por um lado, não deixo de sentir que tens alguma razão (passado o exagero de estabelecer um tão duro juízo por uma afirmação que, admito, podia ser evitada), por outro lado as críticas que normalmente suscitam tais reacções também foram proferidas por outros profissionais, normalmente ainda melhor pagos que aquele que mereceu o teu reparo. Desse ponto de vista, apesar de achar que os árbitros devem ter um comportamento mais recatado que os dirigentes,não sou capaz de proferir uma tão dura setença para quem foi muito mais contido do que normalmente o são aqueles que criticam a arbitragem.

    Dito isto, acho que o teu post levanta diversos questões igualmente merecedoras de reflexão. Deixando de lado todas as questões relacionadas com dirigentes de clubes (embora não deixando de dizer que os requisitos que o teu post implicitamente atribui aos árbitros - bastiões de educação cívica e desenvolvimento pessoal, não tem de deixar de ser colocado aos dirigentes, em particular àqueles que maior impacto têm no panorama desportivo nacional), acho que a arbitragem,regra geral, lida mal com o erro - há demasiados erros, demasiado sérios, muitas vezes cometidos pelos supostamente são os melhores. Isto afecta não só o futebol, mas no futebol os erros têm, como é óbvio, mais impacto. A imagem pública que se dá é a de que os erros, em particular os mais graves, são cometidos com razoável impunidade, pelo menos aparentemente, e nada parece fazer com que a ocorrência desses erros diminua. No caso do futebol, não vejo, sequer, como o profissionalismo os poderá reduzir. Numa visão de grande cepticismo, acho que pouco vai mudar - os erros continuarão a existir, com a mesma seriedade, e a percepção pública será pior, porque afinal o profissionalismo não trará melhorias proporcionais ao acréscimo de retribuição dos árbitros.

    Nos dias de hoje, a estafada conversa do "deixem-nos trabalhar" não convence ninguém e não vejo forma de diminuir erros e o respectivo impacto mediático sem recurso á tecnologia. A NBA já o faz, eventualmente pode ser que o basket da FIBA o faça e talvez isso possa levar a desenvolvimentos semelhantes no futebol. Até lá, episódios como este vão continuar a acontecer, independentemente do civismo dos envolvidos, porque até mesmos os mais pacientes têm limite para aquilo que estão dispostos a aturar.


    Aquele abraço

    Rui

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