TENS JEITO PARA A COISA!
Em matéria de ética e princípios de
igualdade temos ainda um longo percurso a percorrer mas, o que é mais grave, é
que em Portugal parece que é socialmente considerado normal aquilo que deveria
merecer a repulsa de todos os cidadãos e a intervenção das entidades oficiais.
Os agentes da PSP arrombam a pontapé uma porta, retiram os cartões de proteção de uma janela e encontram uma degradante situação social.
Numa dependência uma Senhora nitidamente sob alimentada e carente de tudo é questionada pelo agente da PSP:
- Mas tu moras aqui?
- Moras com quem?
Não senhor agente…, respondeu a Senhora.
- Drogaste?
Não fumo drogas há muito tempo.
- E o teu marido, onde é que está?
- És diabética?
Não senhor agente. Utilizo o aparelho para ver as horas senhor agente, porque eu não tenho relógio.
-Tens telemóvel?
Não senhor agente.
- E o teu marido tem?
Também não senhor agente.
- Olha, e esse pé?
Isso fui eu que cai senhor agente e parti.
Entretanto o senhor agente questiona a Senhora sobre frases escritas na parede, em que se lia:
“ Só pode falar da minha vida quem puder
servir de exemplo”
e
“ O
conhecimento da vida está dentro de cada pessoa”
O agente questiona:És tu que escreves isto?
Sou senhor agente.
Resposta do agente: tens jeito para a coisa!
Não resisti e mudei de canal.
Não está em causa a bondade dos objetivos
da intervenção policial, mas o respeito pelos direitos humanos dos mais fracos.
Será que a exposição de imagem dos pobres
foi autorizada pelos próprios?Será que se respeitou o direito de ser pobre?
E fiquei a pensar….
Mas quem será destas personagens o ser socialmente mais pobre?
Por certo não é esta Senhora que
não perdeu os princípios de educação no relacionamento com os outros e é capaz
de, no meio da miséria social mais profunda em que vive, ter a riqueza de
exprimir, por escrito, os seus sentimentos, a que o Senhor Agente chama- tens jeito para a coisa.
Fiquei mais triste!
Valdemar cabral
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